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segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Cristo + Legalismo

Por John MacArthur

Há muitos anos, um colega da faculdade me disse: "Eu não acho que você seja uma pessoa muito espiritual".

Fiquei perplexo, porque ele não me conhecia o bastante para extrair aquela conclusão, então perguntei a ele porque dissera aquilo.

"Porque você não vai às reuniões de oração no meio da semana", ele respondeu.

"O que isso tem a ver com a minha espiritualidade?", perguntei. "Eu posso muito bem passar o dia e a noite em oração."

"Não", ele disse. "Pessoas espirituais vão às reuniões de oração."

Se ele tivesse dito que pessoas espirituais oram, eu teria concordado e confessado que eu necessitava orar mais fiel e fervorosamente. Mas condenar as pessoas por não manterem regras humanas e rituais religiosos é legalismo. Jesus encarou isso frequentemente em seus conflitos com os fariseus. Paulo adverte sobre isso em Colossenses 2.16-17:

Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados, porque tudo isso tem sido sombra das cousas que haviam de vir; porém o corpo é de Cristo.

Paulo se dirigia às pessoas legalistas que estavam nas igrejas e acreditavam, com efeito, que somente um relacionamento pessoal, vital e profundo com Cristo não é suficiente para satisfazer a Deus. Eles haviam acrescentado regras e requisitos que governavam o exercício de certos deveres que eles achavam essenciais à espiritualidade — regras sobre o comer, o beber, o vestir e a aparência, rituais religiosos e assim por diante. Na economia Mosaica, Deus concedeu muitas leis externas com o propósito de proteger Israel da interação social com povos pagãos corruptos. Tais leis também foram dadas para ilustrar verdades espirituais internas que se cumpririam em Cristo.

Paulo também disse: "Porque nós é que somos a circuncisão, nós que adoramos a Deus no Espírito, e nos gloriamos em Cristo Jesus, e não confiamos na carne" (Filipenses 3.3). O que ele quis dizer com isso? Os versículos 4-9 respondem:

Bem que eu poderia confiar também na carne. Se qualquer outro pensa que pode confiar na carne, eu ainda mais: Circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; quanto à lei, fariseu, quanto ao zelo, perseguidor da igreja; quanto à justiça que há na lei, irrepreensível. Mas o que para mim era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo. Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus meu Senhor: por amor do qual, perdi todas as cousas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo, e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé.

Nenhuma circuncisão humana torna alguém justo diante de Deus, apenas o verdadeiro amputar do pecado por meio da salvação em Cristo.

Quando Cristo veio, os elementos cerimoniais da lei foram postos de lado, porque Ele era o cumprimento de tudo que eles prenunciavam. No entanto, os legalistas na igreja primitiva insistiam que todas as cerimônias — incluindo a circuncisão, a observância do sábado e leis dietéticas — deveriam ser mantidas como padrões de espiritualidade. Visto que eles não estavam genuinamente dedicados a amar a Jesus Cristo, eles ficaram com uma aparência de santidade em vez da verdadeira espiritualidade.

Seu legalismo estava em direto confronto com o ensino do próprio Cristo. Jesus deixou claro que leis dietéticas eram simbólicas e não tinham a inerente habilidade de tornar alguém justo, quando Ele disse que nada que entra no homem pode contaminá-lo. É o que sai de uma pessoa (maus pensamentos, palavras e outras expressões de um coração pecaminoso) que causa contaminação (Marcos 7.15). Esta foi uma declaração chocante, porque o povo judeu sempre crera que havia certos alimentos que contaminavam o corpo. Eles haviam entendido mal o simbolismo das leis dietéticas e pensavam que segui-las realmente poderia tornar alguém justo.

Em Atos 10, Pedro teve uma visão de vários tipos de animais impuros que Deus ordenara que ele matasse e comesse. Quando Pedro fez objeção, porque ele nunca havia comido "cousa alguma comum e imunda" (v. 14), uma voz do céu disse: "Ao que Deus purificou não consideres comum" (v. 15). Um novo dia chegara. Deus estava revelando a seu povo que as leis dietéticas não estavam mais em vigor. Pedro entendeu a mensagem (v. 28). Os crentes estavam livres da escravidão da lei, fortalecidos pela graça para cumprir a justiça da lei sem se escravizarem a seus detalhes cerimoniais. Paulo resume a questão em Romanos 14.17: "Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo".

Em 1 Timóteo 4.1-5, Paulo adverte contra aqueles que apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios, pela hipocrisia dos que falam mentiras e que têm cauterizada a própria consciência, que proíbem o casamento, exigem abstinência de alimentos, que Deus criou para serem recebidos, com ações de graça, pelos fiéis e por quantos conhecem plenamente a verdade; pois tudo o que Deus criou é bom, e, recebido com ações de graça, nada é recusável, porque pela palavra de Deus e pela oração é santificado.

Um evangelho de obras efetuadas pelo homem não é nenhum evangelho (Gálatas 1.6-7; 5.2). Se batismo, orações, jejuns, uso de vestes especiais, presença na igreja, vários tipos de abstinência ou outros deveres religiosos são necessários para se ganhar a salvação, então a obra de Cristo não é verdadeiramente suficiente. Isso é zombar do evangelho.

O legalismo é tanto uma ameaça à igreja hoje como o foi em Colossos. Mesmo nas igrejas evangélicas há muitas pessoas cuja certeza de salvação está baseada em suas atividades religiosas, ao invés de confiarem somente no Salvador todo-suficiente. Elas presumem que são cristãs porque lêem a Bíblia, oram, vão à igreja ou realizam outras funções religiosas. Elas julgam a espiritualidade na base da atuação externa em lugar do amor interno a Cristo, do ódio ao pecado e de um coração devotado à obediência.

Obviamente a leitura da Bíblia, a oração e a comunhão dos crentes podem ser manifestações da verdadeira conversão. Mas, quando isoladas da devoção a Cristo, essas coisas reduzem-se a insignificantes rituais religiosos que até incrédulos podem realizar e pelos quais são enganados quanto à sua vindoura condenação. Jesus disse:

Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade. (Mateus 7.22-23)

Não se intimide pelas expectativas legalistas e superficiais da parte de outras pessoas. Deixe que seu comportamento seja o resultado do seu amor a Cristo e das santas aspirações produzidas em você pela habitação do Espírito e pela presença permanente da sua Palavra (Colossenses 3.16).

Extraído do livro “A procura de algo mais” de John MacArthur

Transcrito por Pr. Paulo Henrique

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