![]() |
Fonte: Pinterest. |
A história da missão cristã sempre se desenvolveu em contextos complexos e adversos. O apóstolo Paulo, por exemplo, plantava igrejas em meio a prisões, perseguições e escassez (Fp 1.12-14). Isso nos lembra que a missão não depende da estabilidade do mundo, mas da fidelidade de Deus e da obediência da igreja ao Senhor da missão. A igreja do século XXI precisa recuperar essa convicção.
Não somos chamados a esperar condições ideais, mas a obedecer com fé. A missão existe porque há povos e nações que ainda não adoram ao verdadeiro Deus (Sl 67.3-5). Por isso, a urgência missionária permanece. As dificuldades que enfrentamos, sejam financeiras, estruturais ou culturais, não podem nos paralisar, mas devem nos impulsionar à total dependência do Senhor da seara (Mt 9.37-38).
A teologia bíblica revela que a missão não é um apêndice da fé, mas parte central do propósito de Deus. De Gênesis a Apocalipse, vemos um Deus que chama, envia e redime (Gn 12.1-3; Is 6.8; Mt 28.19-20; Ap 7.9). A obra missionária não é opcional, nem é uma atividade reservada apenas a alguns, mas é a essência do que a igreja é. Como afirmou Oswald Smith: “A tarefa suprema da Igreja é a evangelização do mundo”. Em O Clamor do Mundo, ele reforça que, se essa é nossa missão mais urgente, então deve ocupar o centro de nossas prioridades, orações, esforços e investimentos.
Caso contrário, nossas ações revelarão que outra coisa, e não a Grande Comissão (Mt 28.19-20), ocupa o primeiro lugar em nossas prioridades, contradizendo o que dizemos crer. Ele afirmava categoricamente que se cremos que a evangelização do mundo tem prioridade, então “cada igreja evangélica deveria gastar mais no trabalho de missões do que gasta consigo mesma”.
Oswald Smith era coerente com o que pregava. Ao ser convidado para pastorear a Igreja dos Povos, em Toronto, afirmou que só aceitaria o cargo se a igreja se comprometesse seriamente com missões, mesmo em meio a uma grave crise financeira. Para ele, enviar missionários era prioridade absoluta. Ele acreditava que, se a igreja colocasse a evangelização do mundo em primeiro lugar, Deus supriria todas as necessidades do seu povo (Mt 6.33). Essa convicção transformou aquela congregação em uma das maiores apoiadoras de missões do mundo.
Muitos crentes, pastores e igrejas têm uma compreensão muito limitada do Reino de Deus, restringindo sua visão ao espaço físico e às atividades da própria congregação. No entanto, Jesus afirmou com clareza que o campo de Deus é o mundo (Mt 13.38). John Wesley, homem de profunda visão e sensibilidade espiritual, expressou essa perspectiva com convicção ao declarar: “Considero o mundo inteiro como a minha paróquia”.
De fato, o mundo em que vivemos é o mesmo campo para o qual Cristo nos envia como seus embaixadores (Jo 17.18; 2 Co 5.20). A igreja é composta por homens e mulheres que foram chamados por Deus para fora do mundo e, uma vez regenerados e cheios do Espírito Santo, são enviados de volta ao mundo para proclamar as virtudes daquele que os chamou para a sua maravilhosa luz (1 Pe 2.9).
É nesse mundo, muitas vezes hostil, que a igreja deve atuar como sal e luz (Mt 5.13-16), exercendo sua missão com criatividade, compaixão e coragem. Por isso, não devemos permitir que mudanças de cenário, contextos culturais ou crises desviem nosso foco. A missão continua, porque Deus continua agindo (Jo 5.17). A história ainda está sendo escrita, e a igreja é o instrumento de Deus nessa narrativa redentora.
George Peters, em Teologia Bíblica de Missões, afirma: “A principal tarefa da Igreja é comunicar de forma inteligível e eficaz uma mensagem divina para o mundo, a fim de levar o homem a uma relação viva com Cristo pela fé. O evangelho — a boa notícia de Deus em Cristo — constitui o coração e o núcleo da posse cristã”. Diante disso, é preciso romper com o comodismo disfarçado de prudência.
Não basta possuir boa doutrina; é necessário vivê-la em obediência, tornando a glória de Cristo conhecida entre os povos. Mesmo em tempos de escassez ou instabilidade, toda igreja pode fazer algo: orar, contribuir, enviar ou ir. A missão não depende de estruturas grandiosas, mas de corações disponíveis e mãos dispostas (Is 6.8).
Seja qual for o tempo, o lugar ou o desafio, que sejamos encontrados fiéis. Que nossas igrejas se levantem com paixão, intencionalidade e fé. Porque, embora os cenários mudem, a missão permanece a mesma: tornar Cristo conhecido entre todas as nações (Sl 96.3; Ap 7.9-10).