Seol, Hades, Geena, Seio de Abraão...! Em fim, para onde vai a alma depois da morte? Por Gevan Oliveira O tratado sobre a alma e morte, inferno e céu é daqueles assuntos que causam inúmeras interrogações aos que se aventuram a estudar este mistério de Deus. Intrigantes explicações são apresentadas por Luteranos, Calvinistas, Arminianos, Católicos, Testemunhas de Jeová, entre outros grupos doutrinários. Todos tentam explicar através de conjecturas o que acontece com a alma depois que o fôlego da vida acaba, ou seja, após a morte. Aliás, para alguns estudiosos da bíblia, o homem nem alma possui. Ou, admitindo sua existência, ela não poderia existir sem a presença do corpo físico. Neste caso, não haveria vida consciente depois da morte. Para estes, a idéia de um lugar de tormento para os "maus" imediatamente após a morte é impensável, isto porque, ao morrer, a alma entraria num total estado de repouso, no túmulo, até a ressurreição que ocorrerá com a segunda vinda de Cristo, quando, então, virá o julgamento para todos. Esta idéia é sustentada, entre outras, com as seguintes passagens: "Não vos maravilheis disto, porque vem a hora em que todos os que se acham nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão: os que tiverem feito o bem, para a ressurreição da vida; e os que tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juízo" (João 5.28,29); E abrira-se os sepulcros e muitos corpos de santos que dormiam foram ressuscitados. (Mateus 27.52). Veja também Daniel 12.2, e Eclesiastes 9.10. No entanto, a crença de que a alma dissociada do corpo físico entra num sono profundo após a morte não é aceita nos círculos mais tradicionais de interpretação bíblica. De acordo com a maioria, boa parte das passagens usadas se refere apenas à ressurreição da vida prevista para ocorrer na segundo vinda de Cristo (leia Ap 20.4,5,11,15), e nada diz a respeito de um possível sono da alma. Em outros casos, como na passagem de Mateus citada a pouco, o fato se deu quando Cristo ressuscitou, após a crucificação. Outra referência que reforça a idéia de uma alma "consciente" após a separação do corpo físico se encontra em Ec. 12.6-7: "Antes que se rompa o fio de prata, e se despedace o copo de ouro, e se quebre o cântaro junto à fonte, e se desfaça a roda junto ao poço, e o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu". Ou ainda Salmos 73.23-24. Segundo o apóstolo Paulo, é a alma do justificado, sem o corpo físico, que vai morar com o Senhor logo após a morte: "Entretanto, estamos em plena confiança, preferindo deixar o corpo e habitar com o Senhor" (II Co 5.8). No Novo Testamento, escrito quase em sua totalidade em grego, salvo algumas passagens em aramaico, a alma é chamada de psyqche. Esta aparece em três passagens para designar a existência da alma após a morte, em contradição à doutrina do sono da alma no pó da terra. Veja: "Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo" (Mateus 10.28). As outras referências são Apocalipse 6.9 e 20.4. Além de psyqche, a terminologia grega pneuma descreve a alma (espírito) consciente do homem após a morte: "Então, Jesus clamou em alta voz: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito" (Lucas 23.46). Leia ainda Atos 7.59, e Hebreus 12.23. Apesar de termos visto que a discussão tem início com a polêmica em torno da existência da alma consciente após a morte, nos próximos tópicos partiremos do princípio de que ela realmente existe de maneira lúcida, mesmo dissociada da matéria. O objetivo deste estudo não é fechar questão sobre determinado ponto de vista (apesar de apresentamos uma visão direcionada em alguns momentos), mas apresentá-los a fim de esclarecer as diferentes interpretações cristãs sobre o assunto. Sheol, Hades, Geena e Tártaro Quase todo cristão já ouviu algumas dessas expressões relacionadas à palavra inferno. Pois bem, um estudo despretensioso nos levará à conclusões um pouco diferentes das que ouvimos em nossas igrejas, sejam elas de orientação reformada (calvinista) ou arminiana. O engodo acontece porque essas quatro palavras são normalmente, em muitos casos, traduzidas por inferno. E, por inferno, entende-se aquele lugar onde Cristo falou que haverá choro e ranger de dentes por toda a eternidade. Contudo, veremos que o uso generalizado da palavra inferno como tradução para todas essas expressões gregas e hebraicas é, sem dúvida, incorreto. Comecemos com SHEOL (she'óhl). Palavra usada no Velho Testamento mais de sessenta vezes para indicar, em grande parte, o estado de morte, ou a sepultura, a cova, ou ainda, um lugar onde todos os mortos estão (reino dos mortos), sejam eles bons, ou maus, salvos, ou não. Em outras, em menor número, dá a idéia de um lugar de punição. Vejamos a passagem registrada em Jonas 2.1-2: E orou Jonas ao Senhor, seu Deus, das entranhas do peixe. E disse: na minha angústia, clamei ao Senhor, e Ele me respondeu do ventre do inferno (do ventre do Sheol). Certamente Jonas não esta dizendo que o interior do peixe seria o inferno ardente, mas o lugar onde ele acreditava que morreria, ou seja, a sua sepultura. No livro de Gênesis 37.35, o texto diz o seguinte: "Levantaram-se todos os seu filhos e todas as suas filhas, para o consolarem; ele, porém, recusou ser consolado e disse: chorando descerei a meu filho até á sepultura" (ao Seol, no original). Note que Seol nem foi traduzido por Inferno, como na passagem anterior. Está muito claro que Jacó não queria ir ao inferno velar seu filho José, que ele achava estar morto. Confira as duas passagens a seguir e substitua a expressão referente ao Sheol por inferno e veja como não há sentido a tradução. As passagens são: Jó 14.13 e Gênesis 42.38 e 37.35. Nesses casos, como em dezenas de outros do Velho Testamento, Sheol não é usado como sinônimo de inferno, mas talvez de sepultura, morte, ou o estado do morto. Seguindo esse raciocínio, fica difícil aceitar que Sheol seja sinônimo castigo, ou de um inferno de chamas. Dessa forma, muitos concluem que o inferno não existe. O problema dessa interpretação é crer que o lugar de tormento eterno, bastante explorado no Novo Testamento, até pelo próprio Cristo, simplesmente é uma farsa. Bem, mas para uma outra corrente teológica, algumas passagens veterotestamentárias onde se usa a expressão Sheol, já indicam a existência de um lugar de punição para os ímpios, e um outro de bênção para os salvos. Para estes, o Inferno é uma realidade bíblica apresentada a partir do Velho Testamento, sendo que a alma do morto vai direto para o inferno, ou ao gozo do paraíso - em um estado de bênção incompleta em função da espera pela segunda vinda de Cristo, quando tudo será consumado. Esta doutrina é reforçada, sobretudo, no Novo Testamento, quando a revelação de Deus sobre o tema é mais explícita. No entanto, vejamos o que Velho Testamento apresenta: "Os perversos serão lançados no inferno (Sheol - no original). E todas as nações que se esquecem de Deus" (Salmos 9.17). Neste trecho lemos claramente que Sheol é empregado para designar um lugar de castigo. Se considerarmos que Sheol é apenas a sepultura para onde todos vão, estaremos aceitando uma contradição bíblica. Isto porque os justos não serão castigados no Inferno, nem os ímpios receberão sua punição apenas na sepultura. O correto seria afirmar que o termo Sheol foi (é) usado para designar situações diferentes. Outras passagens veterotestamentárias ajudam a compreender que o lugar de punição para os não salvos era uma idéia já difundida antes de Cristo: Dt 32.22, Sl 9.17, Nm 16.30, Ez 31.17, Am 9.2, Is 38.10, 2 Sm 22.6, Ec 9.10. Pelo exposto, podemos concluir que o termo hebraico Sheol requer mais de um significado, como querem os defensores do Sheol= inferno, ou Sheol= Sepultura (ou estado de morte). HADES O termo Hades, por sua vez, é a transliteração para o português da palavra grega haídes, usada em várias traduções da Bíblia. Esta surge dez vezes nos mais antigos manuscritos das escrituras gregas cristãs, nas seguintes passagens do Novo Testamento: Mateus 11.23; 16.18; Lucas 10.15; 16.23; Atos 2.27, 31; Apocalipse 1.18; 6.8; 20.13, 14. Parece certo que Hades é o equivalente da palavra hebraica Sheol. Uma das evidências está ao se comparar a primeira tradução do texto das escrituras hebraicas para o grego na Septuaginta, produzida no século III A.C. (versão que Jesus Cristo lia no templo em Jerusalém). Ela emprega a palavra grega haídes diversas vezes para traduzir a hebraica she'óhl. Nas modernas traduções de hoje, também podemos observar isso. Vejamos Atos 2.31 que diz: "prevendo isto, referiu-se à ressurreição de Cristo, que nem foi deixado na morte (no Hades), nem o seu corpo experimentou corrupção". No texto, Pedro cita o Salmo 16.10: "Pois não deixarás a minha alma na morte (no Sheol), nem permitirás que o teu Santo veja a corrupção". Neste caso, observamos que o salmista usa a palavra Sheol com o sentido de túmulo. Pedro sabia disso ao empregar Hades em sua escrita. A versão Almeida edição revista e corrigida, uma das mais tradicionais, traduz haídes por "inferno" nos primeiros três e nos últimos quatro versículos. Nos outros três traduz por "Hades". Essa mesma tradução transcreve she'óhl de quatro formas distintas: "inferno", "sepultura", "sepulcro", ou "cova". A versão Bíblia de Jerusalém, nova edição revista e ampliada, de 2002, traduz a haídes uma vez por "mansão dos mortos", duas vezes por "inferno", e sete últimas por "Hades". Ao avaliar este fato, os teólogos que sustentam que Sheol indica apenas a morada dos mortos, ou a sepultura, concluem que Hades também indica o mesmo fim. Portanto, o lugar de condenação eterna, o inferno, não existiria, sendo algo inventado pela igreja católica, e comumente aceito pelos evangélicos. Já para os que defendem a existência do inferno literal, o uso do grego haídes no Novo Testamento substituindo o hebraico she'óhl, do Velho Testamento, só reforça a revelação de Deus na existência do inferno como lugar de punição. Jesus foi ao Hades?! Entre os que crêem na existência do Inferno como um lugar de tormento eterno (arminianos e reformados) há uma observação muito interessante a ser feita. Baseados nas passagens de I Pedro 3.18-20; 4.5-6 e Efésios 4.8-9, além de um antigo credo apostólico que diz: "Padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado. Desceu ao Hades. Ao terceiro dia, ressurgiu dos mortos", os de linha arminiana (igrejas Batistas, por exemplo) crêem que Jesus Cristo foi a uma partição do inferno (Hades) pregar aos anjos caídos, bem como aos que morreram antes da sua vinda, notadamente aos do período diluviano. Este pensamento, bastante difundido entre os evangélicos, afirma que isto aconteceu no período de três dias entre a morte na cruz e a ressurreição. Um menor número de arminianos afirma, ainda, que os apóstolos e muitos crentes escolhidos por Deus, mortos, obviamente, estão nessa partição do inferno pregado o arrependimento às almas, dando-lhes uma segunda oportunidade. O fato de crer que Jesus foi ao Hades leva alguns teólogos a considerar a existência de uma habitação intermediária no "mundo dos mortos" como lugar de espera para o juízo final. Esta seria a confirmação de que o Hades está dividido, assim como ensina a mitologia grega? (veja mais no tópico O inferno é a morada de Satanás?) Já para os Reformados (presbiterianos, entre outros), o inferno não tem nenhuma divisão e o Hades que Jesus Cristo conheceu em sua morte foi espiritual e não literal/ espacial, ou seja, Ele não foi ao lugar de castigo. Para sustentar a posição, eles usam a passagem de Lucas 23.46: "Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito". Para os justificados que morreram antes de Cristo (e também para os dias de hoje), a fé Reformada defende: aqueles que morrem têm os seus corpos sepultados e seus espíritos voltam para Deus, que os deu (Salmos 73.23-24). Veja também Ec 12.6-7. Os Calvinistas reforçam essa idéia lembrando que Elias e Enoque estão no Céu e não no Hades, nem na sepultura. (Gn 5.24; 2 Rs 2.11; Lc 9.29-32). GEENA Trata-se da transliteração para o português do termo grego "géenna", que, por sua vez, origina-se do hebraico Geh Hinnóm cujo significado literal é "Vale de Hinom". Ela aparece doze vezes no Novo Testamento (Mateus 5.22, 29, 30; 10.28; 18.9; 23.15, 33; Marcos 9.43, 45, 47; Lucas 12.5, Tiago 3.6), sendo sempre traduzida por inferno, e/ou a um lugar de tormento. Vale de Hinom, originalmente, era o lugar onde Acaz, rei de Judá, é mencionado praticando rituais de adoração ao deus Moloque. A cerimônia, de acordo com 2 Crônicas 28.1-3, incluía o sacrifício de crianças. O neto de Acaz, o Rei Manassés, também era adepto do mesmo horror. Somente com a subida do Rei Josias, neto de Manassés, a prática teve fim. Ao passar dos anos, o vale de Hinom tornou-se o depósito e incinerador do lixo de Jerusalém. Lançavam-se ali cadáveres de animais para serem consumidos pelo fogo, ao qual se acrescentava enxofre para ajudar na queima, e mantê-lo sempre acesso a fim de evitar a proliferação de doenças. Também eram recolhidos ao local cadáveres de criminosos executados, não considerados dignos de um sepultamento decente. Quando esses caíam em lugar onde não havia fogo, sua carne em putrefação ficava infestada de vermes. Mas de onde surgiu a idéia de Geena como um lugar de castigo para as almas, ou de um inferno em chamas? No texto de Mateus 10.28 há a possível explicação. Nele Jesus diz: "Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno (na Geena) tanto a alma como o corpo". Note que Jesus não usou o termo Hades para falar do inferno, isto porque ele não queria passar a idéia de sepultura, ou ao estado de morte das pessoas. Ele, ao que tudo indica, desejava reforçar a doutrina da punição eterna para os ímpios, já em evidência no Velho Testamento através de personagens como Noé, os profetas pré e pós-exílio, entre outros mensageiros de Deus. Sabe-se que Jesus sempre se utilizou de parábolas e figuras de linguagem para dar sentido aos seus ensinamentos. Sendo assim, Ele evoca a imagem centenária que todos tinham sobre o Vale de Hinom, ou Vale de Geena, para afirmar que o castigado para os que negassem a Sua salvação seria tão severo quanto o presente em Hinom. Jesus dá a entender que Geena é sinônimo de tormentos e miséria, onde, separado da presença de Deus, há trevas e fogo. No livro de Marcos, assim como nas demais passagens em que são usadas Geena, vê-se, sem dúvida, que a expressão refere-se a um lugar onde há fogo destruidor: "E, se tua mão te faz tropeçar, corta-a; pois é melhor entrares maneta na vida do que, tendo as duas aos, ires para o inferno, para o fogo inextinguível" (Marcos 9.43). Este termo só aparece nos três primeiros evangelhos e no livro de Tiago, mas sempre de forma transparente em seu significado. Portanto, Geena, a nosso ver, é a expressão mais correta quando nos referimos ao lugar de punição eterna: o Inferno bíblico. Bom, mas como eu disse no início deste estudo, a doutrina sobre o inferno/morte, é recheada de interrogações e dificuldades. Acabamos de ver que Geena seria a expressão mais apropriada para designar o lugar para onde vão os ímpios em castigo, e que termo hebraico Sheol tem o mesmo significado do grego Hades, referindo-se, ambos, ao lugar para onde vai a alma depois da morte, ou simplesmente apontaria para o estado de morte das pessoas. Somente em poucas passagens essas duas palavras dariam o sentido de um lugar de castigo. No entanto, na conhecida e sempre estudada parábola do Rico e Lázaro (Lc 16.19-31), Jesus usa o termo Hades para falar do inferno como um lugar de tormento. No relato, Cristo apresenta dois ambientes, um de punição, o Hades, e outro de recompensa, o Seio de Abraão, ou Paraíso: "No inferno - haídes -, estando em tormento, levantou os olhos e viu ao longe a Abraão e Lázaro no seu seio". (Veja mais sobre o Seio de Abraão, ou paraíso, no tópico sobre a "Onde fica o céu"). Observando o contexto de toda a escritura, e não apenas este trecho isoladamente, penso que Jesus esta apenas reforçando a idéia de que Hades também poderia ser sinônimo de lugar de punição, e não apenas de sepultura, ou estado de morte. De todas as maneiras, o Mestre descreve uma dimensão onde há tristeza, memória do passado, remorso, sede insaciável e condenação definitiva, ou seja, tormentos: o Inferno. Note que aqui não há margem para a doutrina do purgatório. Uma vez que não era possível se passar de um lugar para o outro, como defende a idéia católica do lugar intermediário. No purgatório não há condenados, mas apenas almas que ainda não foram purificadas e necessitam de reza e sacrifícios dos vivos para serem limpas. Somente assim estariam aptas a gozar do paraíso, onde só entram os "perfeitos". TÁRTARO Ainda encontramos no Novo Testamento o verbo grego TARTARÓO como sinônimo de "lançar no inferno". Em 2 Pe 2.4 a expressão "precipitando-os no inferno", segundo alguns teólogos, pode referir-se a esfera intermediária (abismos de trevas) onde anjos caídos aguardam o julgamento final, conforme Lc 16.23-26, Ap 20.11-15. Lá não haveria alma de homens. O inferno é a morada de Satanás? A Bíblia, em momento algum, diz que Satanás mora no inferno. Ao contrário, ela o apresenta como "Príncipe das Potestades do Ar", e diz que juntamente com seus demônios (anjos caídos) dominam nas regiões celestes: Nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência (Efésios 2.2). Veja também 6.12 do mesmo livro. De acordo com a doutrina cristã, o inferno é um local de castigo eterno preparado especialmente para Satanás e seus anjos, sendo também a habitação dos ímpios por toda a eternidade. Entretanto, Satanás ainda não está lá. A idéia de que ele mora no inferno sempre fez parte do imaginário popular desde tempos antigos. No Oriente Médio, através das artes, e na Grécia, com a mitologia. Na idade medieval, Satanás ganhou cor vermelha em referência ao fogo, calda, xifres e um torturante tridente. Era a semelhança do deus tupã, meio homem, meio bode, da mitologia grega. Outro erro bastante comum é achar que o inferno fica nas regiões quentes do centro da terra, como pensavam alguns judeus baseados em interpretações equivocadas do Velho Testamento. Impressão muito difundida também na idade média. O mais provável é que todas estas crenças tenham suas origens na mitologia grega. Para eles, Hades, irmão de Zeus, era a divindade responsável pelo inferno, que, por sua vez é dividido em duas áreas: os Campos Elísios, para onde vão as almas boas; e o Tártaro, local de castigo e sofrimento eterno, preparado para os desobedientes aos deuses. (note a semelhança com a idéia cristã da divisão do Hades em um lugar onde há bons e maus). Pensamentos como estes tiveram larga aceitação em diversas culturas ao longo anos, chegando até nossos dias. Infelizmente, ainda hoje, aberrações como a do inferno no centro da terra são anunciadas em igrejas cristãs por pregadores mal informados. Onde fica o Céu? A existência do Céu como morada de Deus é uma realidade já apresentada no Velho Testamento (Gn. 28.17; Sl 80.14), assim como a idéia do Inferno. Quando Jesus Cristo esteve entre os homens, sua mensagem central era firmada na existência do Reino de Deus nos céus. Na Parábola do Rico e Lázaro, Ele faz menção de um lugar chamado Seio de Abraão, onde haveria bênçãos preliminares para os salvos. Para uma determinada corrente de interpretação bíblica, Seio de Abraão era a divisão do Hades em que se encontravam os justos. A outra seção, a do rico, era o lugar de punição. No entanto, por ocasião da ressurreição de Cristo, o Seio de Abraão teria sido esvaziado, e todos os seus ocupantes transferidos para a destra de Deus, conforme a interpretação de Efésios 4.8-10. Desde então, este lugar, agora denominado de Paraíso, passou a ser morada de todos os salvos. Sua localização, segundo II Coríntios 12.2-4, é o terceiro céu: "Conheço um homem em Cristo que, há catorze aos, foi arrebatado ao terceiro céu, (se no corpo ou fora do corpo, não sei, Deus o sabe), e sei que o tal homem (se no corpo ou fora do corpo, não sei, Deus sabe) foi arrebatado ao Paraíso e ouviu palavras inefáveis, aos quais não é lícito ao homem referir", relata o apóstolo Paulo. Bom, mas para os que defendem que no Hades não há divisão, e que os justos vão direto para o encontro com Cristo, Seio de Abraão e Paraíso são duas terminologias usadas para povos (ou períodos) diferentes. A primeira teria sido empregada pelos antigos hebreus como uma espécie de valorização de Abraão, seu grande patriarca. Para eles, os salvos, ao morrerem desfrutariam da presença de Deus e dos patriarcas. Na atual dispensação, em que Cristo morreu por todos, não apenas para os judeus, o termo ficou inadequado, sendo o correto a expressão Paraíso. Jesus Cristo disse ao ladrão da cruz: "Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso" (Lucas 23.43) Foi baseado na esperança do Reino do Céu que Jesus Cristo montou todo o seu ministério. O passaporte para lá seria gratuito, mas o homem teria que crer em sua morte na cruz e ressurreição. Além disso, precisava arrepender-se de seus pecados, e seguir seus passos, andar como Ele andou. O profeta Isaías apresenta o Céu como o lugar onde Deus está assentado em seu trono: "Assim diz o Senhor: O céu é o meu trono, e a terra, o estrado dos meus pés..." (Is 66.1). Outro profeta, Micaías, assim declara: "Vi o Senhor assentado no seu trono, e todo o exército do céu estava junto a Ele, à sua direita e à sua esquerda" (I Rs 22.19) No Novo Testamento, o Céu ganha relatos que o descrevem como um lugar de maravilhas inigualáveis. O apóstolo João diz: "Levou-me em espírito a um grande e alto monte, e mostrou-me a cidade santa, Jerusalém, que descia do céu de junto de Deus, revestida da sua glória, assemelhava-se seu esplendor a uma pedra muito preciosa, tal como o jaspe cristalino...Alta muralha como doze portas, guardadas por doze anjos...A muralha da cidade tinha doze fundamentos com os nomes dos doze apóstolos do Cordeiro...Cidade de ouro puro..." (Ap 21) Paulo, alegre, exclama: "Coisas que os olhos não viram, nem o coração imaginou, tais são os bens que Deus tem preparado para aqueles que o amam" (I Co 2.9). É o lugar onde habitam os anjos: "E, ausentando-se deles os anjos para o céu..." (Lucas 2.15a). Este mesmo lugar também será a morada dos seres humanos remidos pelo sangue de Cristo: "Pois a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo" (Filipenses 3.20). O próprio Filho de Deus testifica sobre o Céu dizendo: "Não se turbe o vosso coração. Crede em Deus; crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vos teria dito. Pois vou preparar-vos lugar" (João 14.1-2). Mas nem todos terão o privilégio de entrar nessas mansões celestiais. Este é um lugar reservado para os adoradores de Deus e seguidores de Jesus Cristo; os que estão escrito no Livro da Vida: "Nela, nunca jamais penetrará coisa alguma contaminada, nem o que pratica abominação e mentira, mas somente os inscrito no Livro da Vida" (João 21.27). Graça e Paz! Gevan Oliveira Jornalista e membro da Igreja Batista Alvorada (CBB) contato: gdoliveira@sfiec.org.br autor do site www.opiniaonapalavra.hpg.com.br |
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Fonte: Guiame
(Foto: Acervo/Globo Filmes).
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