Por Luciano Quemello Borges, 1º Tenente PM — Uma pessoa que se torna dependente química de crack é capaz de consumir quantas pedras seu dinheiro possa comprar. No entanto, quando já habituada, costuma fumar no mínimo 5 por dia.
A porção, que tem aproximadamente 1 g, é vendida em média por R$ 5,00. Logo, estamos falando de um vício que custa por baixo R$ 750,00 ao mês, valor equiparado ao salário básico de milhares de pais de família.
E de onde vem esse dinheiro todo, que no final das contas serve para adubar o narcotráfico, além de patrocinar a violência?
Caso a pessoa dependente química trabalhe, inicialmente o somatório deriva de seu próprio rendimento, quase sempre todo ele. Caso não trabalhe ou então acabe sendo demitida em razão dos problemas trazidos pelo crack (e isso acontece muito), pedirá dinheiro aos familiares.
Mas chega um momento em que os irmãos, primos, pais e avós não toleram mais essa situação e negam o financiamento da dependência… muitas vezes tarde demais.
Assim, a pessoa, já sofrendo as consequências físicas e psíquicas causadas pelo entorpecente, decide vender o que é seu ou de sua casa a preço de banana, ou então passa a trocar o televisor de seu quarto, pares de tênis, jaquetas de frio, tudo que foi parcelado e quitado com muito sacrifício, por uma ou duas pedrinhas esfareladas de crack.
Contudo, em algum dia, o patrimônio próprio acaba, e o jovem talentoso e de futuro brilhante se converte em um criminoso que pula os muros de quintais para furtar roupas, aparelhos de som, utensílios e tudo mais que puder para angariar como moedas de troca, que são aceitas nos pontos de tráfico.
Seu caráter original entra em conflito com sua nova personalidade de toxicodependente, e isso o irrita, tornando-o mais violento, e com uma faca passa a roubar pessoas, a ameaçar e a agredir até mesmo parentes.
Eis que recebe a seguinte proposta: a cada 10 pedras que vender numa “biqueira” (local de venda e uso de drogas) ganha uma para seu consumo: é o “tráfico de subsistência”, ou seja, a venda de drogas para sustentar o próprio vício, bastante comum nos dias atuais, prática conveniente para os traficantes maiores. Tragicamente, isso expõe demais a pessoa dependente química, pois o seu desespero vira pressa para vender, fazendo com que ela saia para o meio da rua e ofereça a qualquer um que passe, o que acaba levando-a rapidamente à prisão.
Além dos citados crimes, inúmeros homicídios são derivados de acertos por dívidas de crack e incontáveis mortes decorrentes de confrontos armados no país.
É relevante perceber que o crack alimenta a violência e a violência alimenta o crack, na medida em que a pessoa rouba para conseguir fumar a pedra e fuma a pedra para criar coragem e em seguida roubar novamente: um ciclo que se tornou o mal do século, um desafio para as autoridades e, principalmente, para a instituição familiar.
Luciano Quemello Borges, 1° Tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo, Bacharel em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública, formado pela Academia de Polícia Militar do Barro Branco, autor do livro “Drogas Recreativas”.
Contato: quemello@bol.com.br
Pb Donizeti (Um servo do Senhor Jesus a serviço do reino de Deus)
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