Certa noite do mês de julho, no ano de 64 d.C., os habitantes de Roma foram despertos do sono pelo grito de "fogo"!
Esta horrível palavra fez-se ouvir simultaneamente em diversas partes da cidade, e dentro de poucas horas a grande capital ficou envolvida em chamas, a grande arena (o Coliseu) situada entre os montes Palatino e Aventino, que cabia 150.000 pessoas em pouco tempo ardia, assim como também a maior dos edifícios públicos, monumentos e casas particulares.
O fogo continuou pelo espaço de nove dias, e Nero, por cujas ordens se havia praticado tão monstruoso crime, presenciou a cena da Torre de Mecenas, onde manifestou o prazer que teve em ver a beleza do espetáculo e, vestido como um ator, cantou o incêndio da antiga Troia, acompanhando ele mesmo com os sons da sua lira.
O grande ódio que lhe votaram em consequência deste ato envergonhou-o e tornou-o receoso; e com a atividade que lhe despertou a sua consciência desassossegada, logo achou meio de se livrar desta situação.
O rápido desenvolvimento do Cristianismo já havia levantado muitos inimigos contra esta nova doutrina. Muita gente havia em Roma que estava interessada na sua supressão, por isso, não podia haver nada mais oportuno, e, em simultâneo, mais simples, para Nero, do que lançar a culpa do crime sobre os inofensíveis cristãos.
Tácito, um historiador pagão, que não era de modo algum favorável ao Cristianismo, fala da conduta de Nero da seguinte maneira: "Nem os esforços, nem a sua generosidade para com o povo, nem as suas ofertas aos deuses, podiam apagar a infame acusação que pesava sobre Nero: a de ter ordenado que se lançasse fogo à cidade. Portanto, para desmentir essa notícia verdadeira, culpou do crime, e infligiu os mais cruéis castigos, a uns homens[...], a quem o vulgo chamava de cristãos", e acrescenta "quem lhes deu este nome foi Cristo, a quem Pôncio Pilatos, procurador do imperador Tibério, deu a morte durante o reinado deste".
"Esta superstição perniciosa, assim reprimida por algum tempo, rebentou de novo, e espalhou-se não só pela Judeia, onde o mal começara, mas também em Roma, para onde tudo quanto é mau na terre se encaminha e é, praticado. Alguns que confessaram pertencer a essa seita foram os primeiros a serem presos, e em seguida, por inconformações suas, foi preso mais uma grande multidão, acusando-as, não tanto do crime de terem queimado Roma, mas de odiarem o gênero humano".
É quase escusado dizer que os cristãos não nutriam ódio algum pela humanidade, mas sim pela terrível idolatria que prevalecia em todo o império romano; e só por este motivo eram considerados inimigos da raça humana.
Continua.
KNIGHT, A. E.; ANGLIN, W.. História do Cristianismo. 3. ed. Teresópolis: Casa Editora Evangélica, 1955. 404 p.