Páginas do J.A.

sábado, 5 de setembro de 2015

"CAUSA MORTIS" DE JESUS

Se, do ponto de vista espiritual, analisarmos a causa da morte de Cristo, ficaremos perfeitamente informados que:

  • "Ele foi ferido pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados", Is 53.5
  • "Convém que um homem morra pelo povo, e que não pereça toda a nação. Ora, ele não disse isto de si mesmo, mas sendo o sumo sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus deveria morrer pela nação. E não somente pela nação, mas também para reunir em um corpo os filhos de Deus, que andavam dispersos", Jo 11.50-53
  • "Estando nós ainda fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios. Porque apenas alguém morrerá por um justo, pois pode ser que pelo bom alguém ouse morrer, mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores", Rm 5.6-8
  • "O qual [Jesus] por nossos pecados foi entregue", Rm 4.25
  • "Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a sua vida pelos amigos", Jo 15.13
  • "Quem os condenará? [aos escolhidos] pois é Cristo quem morreu [por eles]", Rm 8.34
  • "Foi para isto que morreu Cristo, e tornou a viver: para ser Senhor, tanto dos mortos, como dos vivos", Rm 14.15
Por outro lado, a "causa mortis" de Jesus, segundo o dr. R. W. Wynnek, autor do livro intitulado paixão de Cristo estudada pela ciência médica moderna, a morte de quem quer que fosse crucificado "era provocada por cãibras tetânicas e por sufocação, entre espasmos inenarráveis e em plena consciência. Dando uma visão geral da morte de um condenado diz ainda que a prolongada expansão dos braços que se verifica na crucificação reduz gravemente a função respiratória, pela desusada tensão do diafragma, assim só isto basta para a sufocação. É preciso notar que as mãos dos crucificados não eram firmadas ao braço horizontal da cruz, atravessando as palmas com pregos, mas eram traspassados os pulsos onde a resistência era mais forte, pelas robustas formas palmares e dorsais, que unem solidariamente o conjunto ósseo da mão. O crucificado, fixo pelos pregos que traspassaram o pulso, ficava com o corpo completamente suspenso, e isto devia produzir atrozes cãibras tetânicas..."

"Essas cãibras", continua Wynnek, "traziam uma dor muito atroz, provocada pela forte compressão das extremidades dos nervos, enquanto a circulação do sangue, devido às contrações que comprimiam os vasos, se tornava fatigante em plena posse da consciência, como uma agonia cruciante..." À morte seguia imediatamente a rigidez cadavérica, consequência da expressiva fadiga dos músculos.

O evangelista João afirma que dá ferida da lança saiu um fio de sangue e água. Nenhuma estranheza deve apresentar o fato de ter saído sangue ainda fluído, porque sabemos conservar-se o sangue na aurícula direita do coração dos cadáveres, mesmo depois de muitas horas após a morte.

A saída da água foi explicada, por Barbet, como oriunda de líquido hidropericardíaco, de origem agônica. Judica, ao invés, defende que o cruel tratamento da flagelação deve ter causado uma pericardite, sendo o líquido, neste caso, efeito de suor.

Ainda há questões anteriores com o “suar gotas de sangue” (Lc 22.44), só Lucas que o relata, uma vez que como só como médico poderia identificar tal efeito. O dr. Barbet diz: “O Salvador entrou em agonia no Getsêmani e seu suor tornou-se como gotas de sangue a escorrer pela terra. O único evangelista que relata o fato é um médico, Lucas. E o faz com a decisão de um clínico. O suar sangue, ou “hematidrose”, é um fenômeno raríssimo. É produzido em condições excepcionais. Para provoca-lo é necessária uma fraqueza física, acompanhada de um abatimento moral violento causado por uma profunda emoção, por um grande medo.

O terror, o susto, a angustia terrível de sentir-se carregando todos os pecados dos homens, devem ter esmagado o Salvador. Tal tensão extrema produz o rompimento das finíssimas veias capilares que estão sob as glândulas sudoríparas, o sangue se mistura ao suor e se concentra sobre a pele, e então escorre por todos o corpo até a terra. Continuando a agonia em:

João 19.1 - “Pilatos pois tomou então a Jesus, e o açoitou.”

Pilatos cede, então ordena a flagelação do Salvador. Os soldados despojam o Salvador e o prendem pelo pulso a uma coluna do pátio. A flagelação se efetua com tiras de couro múltiplas sobre as quais são fixadas bolinhas de chumbo e de pequenos ossos. O carrasco golpeia com chibatadas a pele, já alterada por milhões de microscópicas hemorragias do suor do sangue. A pele se dilacera e se rompe; o sangue espirra. A cada golpe o Salvador reage em um sobressalto de dor. As forças se esvaem; um suor frio lhe impregna a fronte, a cabeça gira em uma vertigem de náusea, calafrios lhe correm ao longo das costas. Se não estivesse preso no alto pelos pulsos, cairia em uma poça de sangue.

João 19.2 - “E os soldados, tecendo uma coroa de espinhos, lha puseram sobre a cabeça, e lhe vestiram uma veste de púrpura.”

Depois o escárnio da coroação, com longos espinhos mais duros que os de acácia, os algozes entrelaçam uma espécie de capacete e o aplicam sobre a cabeça. Os espinhos penetram no couro cabeludo fazendo-o sangrar (os cirurgiões sabem o quanto sangra o couro cabeludo).

João 19.5-6 - “Saiu pois Jesus fora, levando a coroa de espinhos e o vestido de púrpura. E disse-lhes Pilatos: Eis aqui o homem. Vendo-o pois os principais dos sacerdotes e os servos, clamaram, dizendo: Crucifica-o, crucifica-o. Disse-lhes Pilatos: Tomai-o vós, e crucificai-o; porque eu nenhum crime acho nele.”

Pilatos, depois de ter mostrado aquele homem dilacerado à multidão feroz, o entrega para ser crucificado. Colocam sobre os ombros do Salvador o grande braço horizontal da cruz; pesa uns cinquenta quilos. A estaca vertical já está plantada sobre o Calvário.

João 19.17 - “E levando ele às costas a sua cruz, saiu para o lugar chamado Caveira, que em hebraico se chama Gólgota.”

O Salvador caminha com os pés descalços pelas ruas de terreno irregulares, cheias de pedregulhos. Os soldados puxam com as cordas. O percurso, é de cerca de 600 metros. O Salvador, fatigado, arrasta um pé após o outro, frequentemente cai sobre os joelhos. E os ombros do Salvador estão cobertos de chagas. Quando ele cai por terra, a viga lhe escapa, escorrega, e lhe esfola o dorso.

Sobre o Calvário tem inicio a crucificação. Os carrascos despojam o Salvador, mas a sua túnica está colada nas chagas e tirá-la produz dor atroz. Quem já tirou uma atadura de uma grande ferida percebe do que se trata. Cada fio do tecido adere a carne viva, ao levarem a túnica, se laceram as terminações nervosas postas em descoberto pelas chagas.

Os carrascos dão um puxão violento. Há um risco de toda aquela dor provocar uma sincope, mas ainda não é o fim. O sangue começa a escorrer. O Salvador é deitado de costas, as suas chagas se incrustam de pó e pedregulhos. Depositam-no sobre o braço horizontal da cruz. Os algozes tomam as medidas. Com uma broca, é feito um furo na madeira para facilitar a penetração dos cravos.

Os carrascos pegam um cravo (um longo prego pontudo e quadrado), apoiam-no sobre a palma da mão do Salvador, com um golpe certeiro de martelo o plantam e o rebatem sobre a madeira. Assim, com receio de que a carne das mãos fosse dilacerada com o peso do corpo, pregam-lhe cravos nos pulsos.

O Salvador deve ter contraído o rosto assustadoramente. O nervo mediano foi lesado. Pode-se imaginar aquilo que o Salvador deve ter provado; uma dor lancinante, agudíssima, que se difundiu pelos dedos, e espalhou-se pelos ombros, atingindo o cérebro. A dor mais insuportável que um pode provar, ou seja, aquela produzida pela lesão dos grandes troncos nervosos; provoca uma sincope e faz perder a consciência.

No Salvador não. O nervo é destruído só em parte: a lesão do tronco nervoso permanece em contato com prego; quando o corpo for suspenso na cruz, o nervo se esticará fortemente, como uma corda de violino esticada sobre a cravelha.

A cada solavanco, a cada movimento, vibrará despertando dores dilacerantes. Um suplício que durará três horas.

O carrasco e seu ajudante empunham a extremidade da trava; elevam o Salvador, colocando-o primeiro sentado de pois em pé; consequentemente fazendo-o tombar para trás, o encostam na estaca vertical. Depois rapidamente encaixam o braço horizontal da cruz sobre a estaca vertical. Os ombros esfregam dolorosamente sobre a madeira áspera.

As pontas cortantes da grande coroa de espinhos penetram o crânio. A cabeça inclina-se para frente, uma vez que o diâmetro da coroa o impede de apoiar-se na madeira. Cada vez que levanta a cabeça, recomeçam pontadas agudas de dor. Pregam-lhe os pés.

João 19.28 - “Depois, sabendo Jesus que já todas as coisas estavam terminadas, para que a Escritura se cumprisse, disse: Tenho sede.”

Ao meio-dia o Salvador tem sede. Não bebeu desde a tarde anterior. Seu corpo é uma máscara de sangue. A boca está semiaberta e o lábio inferior começa a pender. A garganta, seca, lhe queima, mas ele não pode engolir. Tem sede.

João 19.29 - “Estava pois ali um vaso cheio de vinagre. Encheram de vinagre uma espoja, e, pondo-a num hissope, lha chegaram à boca.”

Um soldado lhe estende sobre a ponta de uma vara, uma esponja embebida em bebida ácida, em uso entre os militares.

Tudo aquilo é uma tortura atroz. Um estranho fenômeno se produz no corpo do Salvador. Os músculos dos braços se enrijecem em uma contração que vai se acentuando: os deltoides, os bíceps esticados e levantados, os dedos, se curvam. É como acontece a alguém ferido de tétano. A isto que os médicos chamam tetania, quando os sintomas se generalizam: os músculos do abdômen se enrijecem em ondas imóveis, em seguida aqueles entre as costelas, os do pescoço, e os respiratórios. A respiração se faz, pouco a pouco mais curta.

O ar entra com um sibilo, mas não consegue mais sair. O Salvador respira com o ápice dos pulmões. Tem sede de ar: como um asmático em plena crise, seu rosto pálido, pouco a pouco se torna vermelho, depois se transforma num violeta-purpúreo e em enfim em cianótico.

O Salvador é envolvido pela asfixia. Os pulmões cheios de ar não podem mais se esvaziar. A fronte está impregnada de suor, os olhos saem fora de órbita.

Mas o que acontece?

Lentamente com um esforço sobre-humano, o Salvador toma um pouco de apoio sobre o prego dos pés. Esforça-se a pequenos golpes, se eleva aliviando a tração dos braços. Os músculos do tórax se distendem. A respiração torna-se mais ampla e profunda, os pulmões se esvaziam e o rosto recupera a palidez inicial.

Por que este esforço? Por que o Salvador quis falar: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”?

Logo em seguida o corpo começa afrouxar-se de novo, e asfixia recomeça. Foram transmitidas sete frases pronunciadas por ele na cruz: cada vez que quer falar, deverá elevar-se tendo como apoio o prego dos pés.

Inimaginável!

Atraídas pelo sangue que ainda escorre e pelo coagulado, enxames de moscas zunem ao redor do seu corpo, mas ele não pode enxota-las. Pouco depois o céu escurece, o sol se esconde: de repente a temperatura diminui. Logo serão três da tarde, depois de uma tortura que dura três horas. Todas as suas dores, a sede, as cãibras, a asfixia, o latejar dos nervos medianos, lhe arrancam um lamento:

Mc 15.34b - “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes?”

Nosso Pai Celestial, não podia mais suportar, o que fazem com o Seu Filho, Jesus Cristo.

Lucas 23.46 - “E, clamando Jesus com grande voz, disse: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito. Em havendo dito isto, expirou.”

O Salvador diz: “Tudo está consumado!”. Em seguida num grande brado continua: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito”.

E morre... em meu lugar... e no seu!

Glossário
Causa Mortis - Latim, "A causa da morte". 1 Diz-se da causa determinante da morte de alguém. 2 Imposto pago sobre a importância líquida da herança ou legado.
Tetania - Algumas doenças e outras condições que aumentam a frequência de potenciais de ação causam contrações musculares involuntárias. Tetania é também a palavra usada para descrever espasmos musculares (contrações involuntárias dos músculos), quando eles não são causados pelotétano.
Crucificação - Crucificação ou crucifixão foi um método de execução utilizado na Antiguidade e comum tanto em Roma quanto em Cartago. Abolido no século IV, por Constantino, consistia em torturar o condenado e obrigá-lo a levar até o local do suplício a barra horizontal da cruz, onde já se encontrava a parte vertical cravada no chão. De braços abertos, o condenado era pregado na madeira pelos pulsos e pelos pés e morria, depois de horas de exaustão, por asfixia e parada cardíaca (a cabeça pendida sobre o peito dificultava sobremodo a respiração). Crê-se que foi criado na Pérsia, sendo trazido no tempo de Alexandre para o Ocidente, sendo então copiado dos cartagineses pelos itálicos. Neste ato combinavam-se os elementos de vergonha e tortura, e por isso o processo de crucificação era olhado com profundo horror. O castigo da crucificação começava com flagelação, depois do criminoso ter sido despojado de suas vestes. No azorrague os soldados fixavam os pregos, pedaços de ossos, e coisas semelhantes, podendo a tortura do açoitamento ser tão forte que às vezes o flagelado morria em consequência do açoite.O flagelo era cometido ao réu estando este preso a uma coluna. No ato de crucificação a vítima era pendurada de braços abertos em uma cruz de madeira, amarrada ou, raramente, presa a ela por pregos perfurantes nos punhos e pés. O peso das pernas sobrecarregava a musculatura abdominal que, cansada, tornava-se incapaz de manter a respiração, levando à morte por asfixia. Para abreviar a morte os torturadores às vezes fraturavam as pernas do condenado, removendo totalmente sua capacidade de sustentação, acelerando o processo que levava à morte. Mas era mais comum a colocação de "bancos" no crucifixo, que foi erroneamente interpretado como um pedestal. Essa prática fazia com que a vítima vivesse por mais tempo. Nos momentos que precedem a morte, falar ou gritar exigia um enorme esforço.
Hidropericardíaco - Acumulação do líquido seroso claro no interior do saco membranoso que rodeia o coração. Ocorre em muitos casos de pericardite (hidropericardite). Quando o coração fica comprimido pelo líquido, é necessária a sua extração (aspiração) por meio de uma agulha inserida no saco pericárdico através da parede torácica (pericardiocentese).
Hematidrose - É um fenômeno raríssimo apenas uma fraqueza física excepcional onde o corpo inteiro dói, acompanhada de um abatimento moral violento causada por uma profunda emoção, por um grande medo. Apenas um ato destes pode causar o rompimento das finíssimas veias capilares que estão sob as glândulas sudoríparas onde o suor anexa-se ao sangue formando a hematidrose. A hematidrose pode ser mais entendida com uma transpiração de sangue acompanhada de suor. O “suar sangue”, ´é chamado de “hematidrose“. Essa reação é produzida diante de condições excepcionais: para provocá-lo é necessário uma fraqueza física, acompanhada de um abatimento moral violento causado por uma profunda emoção, por um grande medo . A tensão extrema, com contrações musculares localizadas, produzem um rompimento das finíssimas veias capilares que estão sob as glândulas sudoríparas; o sangue se mistura ao suor e se concentra sobre a pele, e então escorre por todo o corpo. O fenômeno Hematidrose consiste em intensa vasodilatação dos capilares subcutâneos que distendidos ao extremo rompem-se. O sangue se mistura com o suor e esta mistura acaba surgindo pela superfície do corpo. Esta disfunção ocasiona uma extrema sensibilidade em todo o seu corpo, uma fragilidade que deixa toda a extensão do corpo com dores intensas.
Dr. Barbet - Pierre Barbet (1884-1961) foi um médico francês, eo cirurgião-chefe no Hospital São José, em Paris. Ao realizar várias experiências, Barbet introduziu um conjunto de teorias sobre a crucificação de Jesus. Em 1950, ele escreveu um longo estudo chamou um médico no Calvário que mais tarde foi publicado como um livro. Barbet afirmou que sua experiência como cirurgião campo de batalha durante a Primeira Guerra Mundial levou a concluir que a imagem no Sudário de Turim era autêntico, anatomicamente correto e consistente com a crucificação.
Algozes - Vem de Algoz, aquele que executa a pena de morte ou outra pena que envolva dano físico, pessoa cruel, fria, desumana.
Via Crúcis - A via-crúcis (do latim Via Crucis, "caminho da cruz") é o trajeto seguido por Jesus carregando a cruz, que vai do Pretório onde estava Pilatos até o Monte Calvário e a crucificação.

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