“ Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará”
Quando passamos por situações de sofrimento, interrogações do tipo “que mal fiz para merecer esse castigo?”, ou ainda “por que Deus está me castigando?” passam por nossa mente como respostas para as queixas.
No entanto, muitas vezes nos esquecemos de refletir na mensagem que diz: “Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará” (Gl 6.7).
Se alguém comete um furto, assassinato, ou qualquer outro crime previsto nas leis civis, a punição será a cadeia.
As prisões estão cheias de irmãos em Cristo que se converteram no cárcere, mas continuam lá pagando pelos pecados, ou seja, colhendo os frutos do erro.
Se um adultério é descoberto no meio da igreja, é provável que o fim seja a exclusão.
Mesmo que haja arrependimento, as duras conseqüências serão inevitáveis.
É mais um fruto indesejável que se colhe de uma semente pecaminosa.
O Senhor presenteou o homem com o livre arbítrio, mas não lhe deu permissão para pecar.
Na sua palavra está escrito que o salário do pecado é a morte (Rm 6.23), mas o homem mesmo assim busca a transgressão.
Com isso, traz maldição para sua vida e a daqueles ao seu redor.
Deus fica triste quando o homem peca, mas ama o pecador, apesar de aborrecer o erro.
Na carta aos romanos (5.20) Paulo revela que onde abundou o pecado, superabundou a graça de DEUS, e não o seu castigo, como querem os adoradores do Deus carrasco.
Culpar Deus pelo sofrimento que advêm do pecado individual me parece uma visão distorcida da forma como Ele age e dos seus atributos.
A idéia de que Deus castiga o pecador com dor e sofrimento tem contribuído para a formação de um rebanho com medo das Suas manifestações.
Na verdade, o Senhor deseja um povo que se manifeste com temor – respeito.
Como cristãos conhecedores das escrituras, sabemos qual o caminho para receber as bênçãos divinas e evitar as lágrimas decorrentes do erro.
Mas claro que isto não é tarefa fácil.
Paulo, o grande responsável por trazer o cristianismo até os dias de hoje exclamou: “Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto” (Rm 7.15).
Contudo, o mesmo Paulo, depois de passar por várias lutas com derrotas e vitórias, afirma: “Não que eu o tenha já recebido, ou tenha já obtido a perfeição; mas prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus... prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” (Fl 3. 12,14).
Por que me roubais?
Alguns crentes murmuram dizendo que não são abençoados em suas finanças, como promete a bíblia, estando Deus lhes provando com períodos de sofrimento e miséria.
Para estes, uma das respostas pode ser esta: “Roubará o homem a Deus? Todavia, vós me roubais e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas. Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais” (Ml 3. 8,9a.)
Se as bênçãos não vêm quando e como se deseja, isso pode ser provação, mas não castigo.
É possível, ainda, que você não esteja deixando o Senhor agir (abençoar) em sua vida, o que é diferente.
Se tiveres fé e devolver o dízimo, além de ofertar com alegria, as bênçãos de Deus cairão do céu, pois não há meio termo nessa promessa (Deus não é homem para que minta): “Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa; e provai-me nisto, diz o Senhor dos Exércitos, seu eu não vos abrir as janelas do céu e não derramar sobre vós bênçãos sem medida” (Ml 3.10)
A ira de Deus
Deus não é sarcástico, ou seja, Ele não tem prazer no sofrimento dos outros, sobretudo quando se trata de seus filhos.
Mas o que dizer de situações como acidentes com seqüelas irreversíveis, graves doenças que provocam dores terríveis e constantes, ou mesmo a morte de algum familiar querido (pais, filhos, avós, amigos próximos). É Deus punindo com sua ira?
Há alguns anos, o músico Júlio César, da então banda evangélica Catedral, foi atingido e morto por um pneu que se desprendeu de um veículo enquanto dirigia o seu carro em direção a um shopping, no Rio de Janeiro, na companhia de sua mulher e filho.
Na época, o acontecido soou como um castigo de Deus pelo fato do grupo ter deixado a música gospel e se aventurado no meio secular.
Mas será que Deus age assim?
Sua ira chega ao ponto de fulminar o seu filho, sem chances de arrependimento em função de uma atitude supostamente errada?
Que espécie de deus vingativo é este.
Certamente um que ninguém gostaria de conhecer, muito menos segui-lo.
A bíblia orienta o temor ao Senhor.
Mas o que vemos hoje são pessoas com medo da ira de Deus e agindo como se a qualquer passo em falso a mão do todo poderoso fosse tocar com uma maldição.
Temor, apesar de em sua origem também significar medo, é o que nos faz respeitar, ter reverência e amar.
Este sentimento nos lembra que Ele é o único digno de toda honra, glória e louvor.
O medo, por sua vez, nos aprisiona e traz amargura.
Ratifico, Deus não tem prazer no sofrimento dos seus filhos, apesar de permitir que os maus frutos nasçam e tenhamos que conviver com eles para o amadurecimento cristão.
Mas Ele também pode nos livrar das dores de uma enfermidade, ou de um acidente, ou mesmo da morte.
Isto Ele faz em resposta a uma oração, e/ou para mostrar seus atributos.
Contudo, isso depende exclusivamente da Sua vontade.
Certa vez alguém perguntou a Jesus de quem era a culpa por um jovem ter nascido com determinada doença.
Jesus, então respondeu: “Para que a Glória de Deus seja manifestada”. Dessa forma, aprendemos que Ele permite (e não lança maldição) que os “males” sobrevenham para ensinar algo que se descobre com o tempo.
Enquanto eu fazia este estudo, uma serva do Senhor, Neide da Silva, fundadora de um projeto que cuida de pessoas carentes há mais de dez anos, teve um mal súbito e faleceu da noite para o dia.
No culto fúnebre, realizado na Primeira igreja Batista de Fortaleza, onde era membro, centenas de seus assistidos e irmãos em Cristo choravam a partida repentina e inexplicável da irmã.
Na ocasião, todos contavam o quão valorosa foi aquela mulher.
A perda, nesse caso, não parece ter sentido, mas Deus sabe porque a chamou para si.
Por enquanto, conforta-nos saber que ela está no Paraíso com o Senhor Jesus colhendo os belos frutos do seu ministério terreno.
Correção e castigo
Falo de coração, não consigo imaginar Deus machucando deliberadamente alguém para ensinar uma lição, apesar de saber que Ele pode fazer o que desejar para corrigir o homem.
Lembre-se, a maldade não é atributo de Deus.
Por sua vez, a correção, o ato de eliminar os erros de alguém, apesar de não me parecer sinônimo de castigo (ato de punir com severidade, em muitos casos de forma mortal), é certamente usada por Deus para disciplinar seus filhos.
A bíblia nos dá a certeza de que cada um tem sua experiência própria com o Senhor e sabe distinguir entre o que é fruto do pecado, ou provação advinda de Deus para corrigir a quem ama.
Em todo o caso, o apóstolo Paulo nos anima a aprender com as tribulações diárias. “E não somente isto, mas também nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança, e a perseverança experiência, e a experiência esperança” (Rm 5. 3-4).
E os casos de morte do Velho Testamento?
Muitas vezes ouvi amigos não crentes afirmando que o Deus do Velho Testamento era mal e vingativo, enquanto no Novo Testamento, Ele se mostrava como o Pai piedoso que enviou seu Filho para morrer numa cruz.
Será que eles estão certos nessa conclusão?
Tentarei explicar.
É fato que houve muitas mortes no período veterotestamentário sob a vontade e execução de Deus.
Sodoma e Gomorra, Nínive, impérios palestinos, e o próprio povo de Israel foi duramente punido ao longo dos anos com milhares de perdas.
Não podemos excluir estes fatos da bíblia.
No entanto, para tudo o Senhor tinha (e tem) um propósito, e, acima de tudo, age com justiça.
À primeira vista, alguém pode afirmar que a ira de Deus foi sem propósito e reflete injustiça.
Mas uma observação mais atenta aos fatos, nos levará a concluir que em todas as situações Ele alertou por meio de seus profetas, anjos, sacerdotes e reis que o castigo pelos pecados haveria de chegar em breve, havendo necessidade de arrependimento.
Nesses, e em outros casos, Sua ira caiu sobre os homens, incluindo os seus escolhidos, como forma de mostrar que o pecado era intolerável aos seus olhos.
Todos tiveram a oportunidade de se arrepender, mas escolheram continuar pecando.
Hoje não é diferente, e o castigo de Deus está reservado para o dia do julgamento.
Antes disso, o sofrimento vêm através de frutos podres (a AIDS é um bom exemplo disso).
Não nos cabe questionar os Seus propósitos.
Se assim fosse, o que dizer dos milhares (ou milhões) de soldados inimigos, além de mulheres e crianças, que o Senhor fez perecer em favor do Povo de Israel.
Tudo em nome da promessa a Abraão, e da preparação para a vinda do Messias.
Questionar o motivo de Deus agiu assim, é entrar em seus mistérios.
No Novo Testamento, o caso mais notório é o de Ananias e Safira.
Eles mentiram a Deus, que os sacrificou imediatamente para servir de exemplo à igreja que nascia e tinha a missão de alcançar o mundo nos anos seguintes.
No capítulo 5, verso 8, do livro de Atos, lemos que houve um temor sobrenatural entre todos por ocasião do fato, marcando a trajetória daquele povo.
Hoje a terra prometida está com Israel, mesmo que em meio a guerra.
Cristo, por sua vez, venceu o pecado pela sua morte, mostrando o mais profundo do amor de Deus pela humanidade.
Resta-nos, agora, cumprir as suas ordenanças e esperar pelo julgamento.
Nesse dia, sim, a ira de Deus será manifestada novamente com todo o seu furor sobre os filhos da desobediência separando os bodes das Suas ovelhas. “Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores. Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele Salvos da ira” (Rm 5. 9-10).
Gevan Oliveira
Jornalista e membro da Igreja Batista Alvorada (CBB)
Pb. Donizeti (Um servo do Senhor Jesus a serviço do reino de Deus)